Uns ficam, outros aparecem. Uns vão embora e não voltam mais e outros acabam, uma ou outra hora, voltando. Todos, no entanto, acabam fazendo parte de nossa história. De todos, lembramos com carinho. Todos ajudaram a compor um pouco o que somos hoje. Todos sabem que corre em suas veias, o sangue adrenalizado do handebol. Agora, quantos de nós temos noção de que em algum momento de nossas vidas esse energia e poder que o handebol transmite pode fazer toda a diferença?
Mas, um novo ano começara. Como superar expectativas? Manter um quarto lugar nos Regionais para as garotas ou melhorar ainda mais essa colocação e colocar de volta os garotos numa condição que pudesse sugerir que a continuidade estava existindo. Some-se a isso o fato de que sabíamos que a preparação física e técnica dos nossos atletas iria precisar mudar radicalmente. Precisaríamos substituir treinos excessivamente monótonos e pouco aproximado com situações que eles passavam em quadra por algo mais dinâmico, efetivo e forte. Junto com essa mudança, precisávamos de uma mentalidade diferente em nossas equipes. Tínhamos todos que encarar nosso treinamento de forma mais séria ou como acostumamos a dizer nesse ano em algumas ocasiões, precisávamos treinar forte para jogar tranqüilos, ou "é preferível treinar chorando e jogar sorrindo do que treinar rindo e chorar depois do jogo". Mas como mudar algo que estava mais ou menos tacitamente colocado, a saber, que Diadema era um passatempo ou um espaço para jogarem simplesmente. Afinal, não havia qualquer contrapartida por parte da Secretaria. Sem vale-transporte, quase sem campeonatos para disputarem, sem lanche para as competições, sem uniformes para todos os participantes, sem bolas suficientes, sem ginásio adequado para jogos e competições, era difícil perceberem que no Esporte (e mais ainda em Diadema) é sempre preciso ganhar antes para pedir depois. A visibilidade é sem dúvida fundamental para uma equipe que almeja ser levada a sério.
Para tanto, conquistamos definitivamente o horário da segunda à noite e resolvemos aplicar um trabalho mais intenso de hipertrofia muscular no começo do ano aliado ao trabalho com bola. Além disso, aprimoramos o trabalho de saltos e de velocidade, entendendo que aí nesses requisitos repousam grande parte do que é necessário a um atleta mais sério de handebol, além, é claro dos atributos técnicos e genéticos fundamentais. Entretanto, sem a preparação física adequada, os últimos não são suficientes para garantirem, hoje em dia, o sucesso no handebol. Precisamos (como qualquer equipe) de atletas altos (de preferência perto dos seus 1,90m), com grande envergadura, inteligentes e disciplinados, mas também precisamos torná-los minimamente fortes e velozes, o que significa proporcionar-lhes condições suficientes para que obtenham uma estrutura muscular avantajada sem perder a rapidez e velocidade tanto de movimento quando de pensamento. Não dá para conceber o handebol sem contato físico, sem velocidade, sem força, sem essa intermitência constante de exigências máximas e médias. Diadema precisa se tornar, nesse sentido, uma ótima escola de handebol, capaz de produzir atletas em condições de entender cognitivamente a complexidade do jogo e responder técnica e físicamente às exigências que essa complexidade nos coloca (atletas e técnicos) no dia-a-dia dos treinos e dos jogos.
Pois bem. Estava dado o desafio. Estávamos à altura dele? O ano começou difícil, pois precisávamos praticamente remontar uma nova equipe masculina em virtude do trabalho que alguns já tinham arrumado, da desmotivação de outros ou porque haviam ultrapassado a idade limite de disputar os Jogos Regionais. O bom foi que pudemos contar com cerca de 35 garotos e garotas que vieram dos municípios ao redor (São Paulo, Santo André, São Bernardo) e estavam em busca de algum lugar em que pudessem mostrar o quanto podiam contribuir fazendo parte de uma equipe ou que tinham expectativas de disputar os Regionais. Estávamos prontos para começarmos com um novo estilo de treino (para isso muito nos ajudaram os cursos que fizemos no Esporte Clube Pinheiros) em meio a um grupo heterogêneo: uns muitos motivados e outros apenas interessados em passar algumas horas jogando handebol. Demoramos para entender essa diferença. Gostávamos de todos, mas também precisávamos uma hora ou outra, proceder a um tratamento diferenciado em relação a duas posturas opostas nos nossos treinos, apesar de precisarmos de todos eles dentro de nossas equipes.