sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um garoto e sua bola!


 








Participando do segundo circuito mirim de handebol masculino realizado em Diadema, dez horas de jogos, de sorrisos, de inícios, de consolidações, cada equipe trazendo sua realidade, suas experiências e se pondo à prova, concluo quase que de forma definitiva: esporte - da maneira como se deve perceber e incentivar todo o início -  e festa devem andar sempre juntos!




Competir não é ruim por si só. As críticas que sempre se fizeram a quem compete e à sanha advinda do destempero diante da derrota é que são, essas sim, maléficas. O que fazemos quando estamos competindo é que deve ser o objeto mais cuidadoso do nosso foco: condutas, valores, procedimentos, experiências são insistentemente alimentados quando lidamos com o esporte. Mais do que perder ou ganhar, está em jogo o "como perder" e o "como ganhar". Vejo muitos exemplos, bons e ruins. Venho percebendo que os melhores exemplos reiteradamente  não se dão com discursos acalorados, com "lições de moral", com títulos que se acumulam, com amigos que se apinham ao redor, com blá-blá-blás...


A cartilha que é infalível traz alguns elementos incontestáveis: serenidade, paixão, perspicácia, obstinação e persistência. Reunidos em uma pessoa ou em uma equipe não garantem, de forma alguma a chave da esperada vitória. Constrói, outrossim, um castelo forte demais.


Alegrar-se com a alegria das crianças. Vi isso em alguns. Em muito poucos. Devia ter visto em mais pessoas.

Mas, não é assim mesmo que os avanços mais sólidos acontecem? Imperceptíveis e salpicados de uma intensa e desmedida alegria para quem os conquista? Só para quem os conquista... Para mais ninguém. O mundo ao redor parece o mesmo para todo o restante, mas, num certo ponto, para aquela pessoa que chegou onde talvez não esperasse chegar, especificamente esse avanço representa o passo mais importante.

 Assim, sem alardes, sem gritos, sem desespero, o mundo passa a girar por um segundo ao seu redor, você, o centro do mundo.


Pois, é. Senti que por um segundo, o centro do mundo era mesmo ali, numa periferia da região metropolitana, em que garotos afoitos, vibrantes, felizes, tateantes, medrosos, deslumbrados disputavam uma bola como talvez nunca mais disputem.
Nesses poucos instantes, a bola valia mais que o ouro mais reluzente, o gol, representava a riqueza mais almejada. Um único gol, um salto, ele e o goleiro. Pronto. Alegria completa. Em dez horas, quantos sorrisos foram disseminados? Ajudou-se a diluir a poluição do ar? Estava em jogo o futuro de algo "mais" importante? Não mesmo... Mas, aqui, diluiu-se alguma resistência, bem aqui no peito. Para os garotos, mesmo na derrota, alguns desses tesouros puderam ser levados: um gol impossível, um salto para o infinito, uma interceptada inesperada, um passe tresloucado e original, um grito de comemoração, um aperto de mão entre adversários.


Esses presentes podem até ficar esquecidos, podem amarelar, mas estarão lá, guardados em algum pedaço desse peito aberto pela emoção inesperada, peito e coração esses que de agora em diante estarão, inadvertidamente, sempre lutando contra as mesmices, o tédio, o despropósito da vida. Aí, então, poder-se-á dizer que realmente nesse segundo inesperado, o centro do mundo eram essas crianças lutadoras, afoitas, indecisas e felizes.


Ao fim e ao cabo, sabe onde está a vitória disso tudo? Poder, sem saber nunca a resposta ao certo, ter criado em algum improvável garoto uma fagulha; poder ter despertado uma paixão... Sequer havia algo lá no peito desse garoto e de repente, cheio de um entusiasmo sem motivo identificável para ele, a mão começa a coçar procurando a bola que lhe mudou os sentidos, os olhos se viram agitadamente procurando aquele pequeno quadrado da quadra que o fez feliz demais e o corpo, como em uma dança sem coreografia, se põe a refazer a mágica do salto, do gol, do grito.


Bom, mas isso pode ser apenas devaneio mesmo e o que vi lá pode também ser só uma euforia passageira de um garoto qualquer.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Pequeníssimos passos. Invisíveis avanços.






Eu, com minhas lembranças, pego-me pensando que gostaria de ter tido professores mais rígidos, mais insistentes, mais provocadores. De lá teria tirado mais lições, mais situações para me colocarem à prova. Aqueles que me foram pretensamente mais complacentes não me fizeram crescer e aprender o tanto quanto gostaria. Entre um sorriso fácil mas distante, de um lado, e um olhar severo mas constante, de outro lado, prefiro esse nem sempre amigável contato, provocador de conflitos e incertezas, tão pouco esclarecedor...
Pois, é. O que é bonito no contato com outras pessoas é essa incerteza aberta e chance dada de reconhecer na distância do tempo, o que de fato se levou da vida. 

 
A super-proteção não leva a lugares tão proveitosos, nos faz acomodar de um jeito prejudicial demais. Viramos o objeto que se quer admirar e não a pessoa que precisa se acostumar com o mundo.


No cotidiano desse recomeço em Diadema, venho percebendo que preciso ser austero para provocar amadurecimentos mais rápidos. Preciso ser distante para impedir possíveis afrouxamentos. Preciso criar um ambiente bom para o aperfeiçoamento. O esporte exige um ambiente fechado, livre de interferências, voltado para a eficiência máxima. Suor e atenção, luta e persistência... Sobretudo saber lidar com o fracasso, com os erros, com as frustrações. Aí, se forja um talento. Ai, um espírito combativo, justo e ciente de suas habilidades tem a chance de aparecer.

Venho me acostumando a tentar me alegrar com os pequenos avanços. Tão pequenos que para todos os outros ainda não aparecem a olhos vistos. Um passe bem executado, uma movimentação inteligente, um gol tramado na percepção fina dos espaços criados... Um só... Um jogo todo e minha alegria se concentra nesse pequeno momento invisível frente a adversários superiores. Um olhar sobre os ombros para mim que confidencia no atleta uma satisfação fugaz e intensa que é tão difícil de se ter em qualquer outro momento. De repente, na velocidade de um relâmpago, fico feliz. Acumulo pequenos raios desses de felicidade. Guardo comigo sabendo que no próximo lance, no próximo segundo, a exigência sobre esse olhar terá mudado, terá aumentado, como prova silenciosa de que querer sempre mais não é tão ruim assim, se ao final, pudermos ir recolhendo esses tesouros esparsos, difíceis de encontrar.



Assim, caminhamos aprendendo a fazer nosso próprio caminho.

Sempre quis ter uma equipe estruturada e a chance de me dedicar plenamente a ela. Só que esse querer tem que sofrer o impacto de uma dura pancada para a cada dia, merecer se transformar em algo palpável. Talvez, sem o saber como, de forma tateante, errante, o ideal de uma formação, do esporte, de uma paixão, seja esse mesmo, construir caminhos. A solidez vai depender dos ingredientes que conseguirmos juntar aos sonhos. Temos os nossos... ingredientes, mas também sonhos.