segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O que aprendi! (observações sobre o handebol de Diadema em 2008)







O que aprendi!
Altos e baixos, descobertas e decepções, vitórias importantes e derrotas inesperadas, alegrias insuperáveis e choros marcantes. Assim, passou 2008 sobre nossas cabeças e por dentro de nossos corações. Cada um de nós poderia enumerar os seus próprios momentos inesquecíveis — e foram tantos! — ou aqueles momentos que, sinceramente, gostaria de deixar de lembrar.
Mas, se pensarmos bem, não é essa a busca mais recompensadora de nossas vidas? Ou seja, ter vivido com intensidade, ter experimentado os mais conflitantes sentimentos, ter suspirado exausto depois de ter lutado sem parar? Ou, de outra forma, ter encontrado o repouso temporário tão reconfortante após uma vitória e, logo em seguida, erguer-se refeito à espera do nosso próximo desafio?
Que orgulho é esse, sem explicação, de querermos assumir um compromisso incansável de, obstinadamente, almejarmos nos tornar ainda melhores, de desejarmos os tesouros mais inalcançáveis e as vitórias mais improváveis?
Numa palavra: se somos assim no Esporte, o seremos na vida!
Agindo assim, cada desafio nos recobrirá com essas forças que sempre acompanham quem ousa expandir seus limites: ir além... Em certos momentos — cada vez mais raros na vida — podemos juntar forças, juntar sonhos, juntar esperanças, juntar todas as diferenças e refazer histórias, reescrever destinos. Só nesses raros momentos de superação, de entrega, a história isolada passa a ser a história de um grupo. E, aí, o que cada um viveu, fica marcado também na lembrança de outros. O que um sonhou, também se encontrava, então, no sonho de outros. Uma conquista individual é substituída pela conquista de todos: no sonho, no Esporte, na vida! Mas, lembremos: esses momentos são raros!
Nesse ano aprendi muito. Sobretudo que, para haver uma vitória na quadra, antes ela tem que ter povoado nossa cabeça, tem que ter habitado nossos sentidos, tem que já estar assegurada e superada no próprio corpo, dentro de nós mesmos. Se não, na quadra, mesmo que saiamos com o resultado favorável, não teremos ganhado, de fato, nada.
Uma vitória precisa ser almejada, intensamente desejada, procurada. Tem que ser o resultado de um grande esforço, um coroamento: tem que dar trabalho alcançá-la. Ela não pode ser comprada como quem pede ao vendedor uma bala. Ela tem que ser conquistada por mérito, ser o reflexo de uma história, de um caminho. E, quanto mais verdadeiro, mais longo esse caminho, mais a vitória será saboreada e desfrutada. Vencer os Jogos Regionais , foi o ponto culminante de uma luta de quatro anos. Vencê-los estava em nosso destino. Tinha um sentido e representava um desafio que estava à altura dessa vitória que já habitava esse caminho. Essa vitória já nos pertencia. Éramos merecedores dela.
O que quero dizer é que precisamos estar à altura dos campeonatos que disputamos, das batalhas que nos dispomos a lutar, das vitórias que julgamos merecedores. E, para isso acontecer, sinceramente, temos que nos diferenciar: treinar, trabalhar e estudar — tudo isso junto —, treinar mais, saber fazer escolhas que só nós podemos fazer por nós mesmos, pensar em futuros impossíveis...
Mais do que vencer, é merecer vencer! Os corredores de longas distâncias, independentemente de suas colocações, sabem bem o que é merecer vencer. Sentir ao final — depois de exaurir todas as energias, lutando consigo mesmo, com as dores, dialogando com o sofrimento e espantando os mil demônios que a cada passada insistem em querer fazê-los desistir — a recompensa de ter cruzado a linha de chegada é um sentimento que traz sentido a todo o esforço por mais árduo que ele seja. Sempre me impressionou esse e tantos outros exemplos que o Esporte nos mostra, mas nunca tinha percebido nosso grupo como protagonista de um exemplo tão bonito. Bonito porque duradouro. Bonito porque intenso. Bonito porque desinteressado, movido pela paixão e cheio de incertezas.
Nossos vínculos não são apenas os que unem uma equipe. Eles são os vínculos que nos ajudaram a nos fazermos como pessoas, como atletas mais completos. E ser atleta, é também ter essa postura. Ser reconhecido não apenas pela vitória que se conquistou, mas pela maneira como se disputou, pela maneira como se encarou seu adversário, pela forma como utilizou o desafio para se superar. Ou seja, ser atleta, é ser mais a cada partida, é estar pronto para essa superação que o obriga a ser diferente a cada momento. Estar pronto para terminar um jogo diferente do que quando começou, encontrando no desafio, a força, a motivação, o talento para modificar-se. Abrir-se para o abismo, abrir-se para precipícios. O jogo enraíza-se em nós. O handebol nos transforma.

Altos e baixos...
Os aclives e declives da cidade de Barra Bonita prenunciariam os altos e baixos de um ano marcado por emoções contraditórias. No mesmo instante em que decidíamos — eu e o Fernando — sairmos das equipes por acharmos que não estávamos conseguindo fazer os atletas renderem aquilo que deveriam na quadra, nossa equipe feminina realiza uma final eletrizante na São Caetano Cup. Com certeza, uma das partidas mais bonitas do ano. Assim, possíveis mágoas se desfizeram entre os gritos merecidos de campeão. Masculino, por sua vez, decepcionante na São Caetano Cup, encanta na Copa Estadual realizando jogos fortes e de movimentações precisas. Feminino, que volta a jogar mal na Copa Estadual, acaba refletindo na quadra, os desentendimentos de fora: muita dificuldade de aceitar todas as pessoas da equipe, por mais diferentes que elas sejam. Algo precisava mudar. Forte devia ser o comando do feminino, cheio de personalidades fortes. O rumo precisava ser corrigido e os treinos, a partir daí, necessitavam de mais exigência.
No masculino, sentia-se no ar uma mobilização especial para os Jogos Regionais. Todos os esforços tinham essa data como prazo final, objetivo maior. Para alcançarmos esse objetivo maior, fizemos de tudo. Treinamos muito até os Jogos. E nos Jogos, surpreendemos adversários acostumados a nos vencer. Um título que nos aguardava: era nosso, merecidamente. Nesses dias, presenciei um handebol alegre, inteligente e muito coeso. Bons dias!
Enquanto o feminino seguia treinando forte, o masculino, aliviado diante da classificação para os Abertos e com os compromissos que colocavam o handebol em segundo e terceiro planos, quase nem treinava. Sem percebermos fomos rapidamente perdendo o que tínhamos, a duras penas, conquistado.
Vimos nos Abertos que não conseguimos dar o passo tão aguardado: conquistarmos a consistência de jogo que tanto diferenciam as equipes mais estruturadas. Jogadores talentosos perdidos em seus estilos pessoais pouco atentos ao que acontecia com a equipe. Os bonitos castelos ainda eram de areia! Difícil dar unidade a um grupo diante de tantas perdas. Seguimos até onde poderíamos chegar. Descobrimos pelo lado mais difícil que nem tudo é festa.
Quanto às garotas? Ah, nesses quatro anos de trabalhos com as equipes, talvez essa tenha sido nossa mais profunda decepção. No entanto, quantos de nós achamos isso, de fato? Quantos de nós sentimos, de verdade, a frustração de uma derrota indevida? Quantos de nós queríamos, realmente, aquela vitória? Olhássemos para cada uma das garotas poderíamos receber algumas respostas que não temos ainda. Não víamos nelas o brilho nos olhos de quem está pronto, tampouco o espírito combativo tão próprio dos vencedores. Sucumbimos, não sei por qual motivo, antes mesmo de entrarmos em quadra. E lá, na quadra, não acreditamos que podíamos reverter expectativas. Bom. Senão era esse o nosso momento, descobriremos. Só que agora, saberemos que vale à pena suar a camisa até que a última gota escorra da nossa testa.
Vencidos e Vencedores
Por último, observando um pouco a fase final da Liga e os desdobramentos de nossos jogos, aprendi também que o vencedor não é apenas aquele que levanta o troféu ao término do jogo, mas também aquele que permanece em pé, pronto para recomeçar tudo de novo: lutar, perder, ganhar, mas, sobretudo, continuar, permanecer erguido, inabalável. Assim, a história de uma equipe, não é a história de seus troféus, de suas medalhas, de seus campeonatos. É, sim, a história das dores, do suor, dos gestos inspiradores, dos sorrisos despretensiosos. É a história contada quando só o brilho das medalhas não alcança a grandeza do caminho. Aí, quando os gritos cessam, quando os hinos terminam e tudo se cala, uma inquieta verdade nos atinge. No apagar das luzes, no amanhecer solitário, reinventamos o caminho fitando horizontes distantes. Ganha quem permanece contando a história e não quem encara o troféu como o último passo. A vitória, nesse sentido, é só um recomeço.
De uma coisa não tenho dúvida. Depois de tudo, quando essa história acabar (agora ou daqui uns bons anos para frente), saberemos que no seu lugar, uma saudade imensa vai nos invadir. Quando esse vazio for sentido, serão as boas lembranças intensamente vividas em todos esses anos como atleta que preencherão nossos corações. E elas serão tão profundas que essa experiência única se transformará em modelo de nossa própria vida.