quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Uma voz destoante, um blog de qualidade: mil por cento. Mais alguns comentários sobre o handebol nacional.


Revirando os posts do meu facebook, vi que um garoto (Eduardo Gomes) que treinou comigo compartilhou o último texto desse blog que desconhecia. Li e acho que no Esporte, a falta de textos críticos e de comentadores atentos, seu blog merece ser acompanhado. Ex-atleta de handebol, Kiko Andrade parece conhecer bem algumas das incríveis deficiências do Esporte nacional. Aponta a irresponsabilidade da condução dos financiamentos públicos para o Panamericano.

Centra-se na crise institucional e de comando do handebol mas aponta outras tantas deficiências que ajudam a entender melhor as agruras insanáveis a curto prazo. Exige-se - e concordo com ele - uma mudança de comando. Mas não só isso. Concepções apequenadas de dirigentes, treinadores, clubes e secretárias de esporte colocam o handebol e o esporte de base sob difíceis e inférteis terrenos.

Como a planta que não é regada. O handebol murcha, perde o seu brilho, deixa de encantar e fica fadado a uma morte anunciada. Os respingos que lhe dão sobrevida vêm de que ainda se alimenta de uma esperançosa saída ou algum horizonte ainda distante.

Há a necessidade de irmos da indignação à ação. Acho que a internet tem acumulado forças inexploradas nesse sentido. Fico feliz por encontrar finalmente um blog que me inspire não por concordar com todos os argumentos e com todas as saídas discutidas, mas porque me coloco do lado, assim como esse blog, dos que distoam, dos que não são ouvidos e fazem o handebol ainda ser uma paixão, bem ali, onde não se colocam holofotes, onde perdura o esforço incansável de garotos e garotas que encontram sentido praticando uma modalidade que lhes fazem mais felizes. Somássemos as desilusões e as críticas de todos ainda não teríamos a dimensão dos malefícios causados por pessoas tão pequeninas dirigindo o handebol... Como é que nos conformamos a assistir uma única partida que valha a pena o ano inteiro? Uma Liga Nacional tem a dimensão de um único jogo equilibrado... As mesmas equipes à frente, os mesmos atletas e ainda somos apaixonados. Dá para aceitar que o Pinheiros tenha ganho no masculino em todas as categorias no naipe masculino? Dá para aceitar que o mesmo Pinheiros e quem quer que esteja à frente dessa maneira, se contente em ser rei de um império tão medíocre?

A esse propósito, lembro-me de uma consideração que fez a Dayane dos Santos as vésperas de um mundial quando um repórter perguntou-lhe a respeito de sua principal rival, que lesionada, não disputaria o campeonato.

Sua resposta, resume um pouco do que é o espírito de quem também se emocionou ao ver lindos jogos no Mundial da Suécia, e espelha uma máxima que só quem está muito distante da realidade de quem compete, não pode alcançar...

Não conseguirei reproduzir o que ela disse exatamente, mas resumo. Para ela, não estar disputando o Mundial ou qualquer outra competição com os melhores não era a mesma coisa. Decepcionada, sabia intimamente que ganhar não competindo com as melhores ginastas não seria a mesma coisa. Uma medalha garantida previamente. Digna e justa, mas ainda assim, um pouco decepcionante.

Quando se quer ganhar... Se quer ganhar por ser o melhor entre os melhores, respeitando os companheiros e exigindo que eles também possam fazer o melhor. A vitória é também, nesse sentido, um teste, uma avaliação de que se acertou ou não nos passos que foram dados até chegar a esse ponto.

Isso provou a França e tantas outras equipes bem preparadas que carregam consigo não só uma estrutura voltada para além dos próprios umbigos mas que dividem a responsabilidade de expandirem ainda mais os limites do handebol mundial. Para eles, de alguma forma é preferível ganhar de quem sabe tanto quanto eu. E que o esforço que me garante no topo é o resultado de toda uma política de investimento, expansão, conhecimento e ousadia.

Aqui, ainda se acha que ostentar o título de campeão, disputando com quem se disputa, é algo grandioso e justificador de empáfias absurdas. Aqui, vale a máxima de que se é rei caolho em terra de cegos.

Congratulo-me com a sua luta. Ela é minha também. Ela é, pelo que tenho visto em alguns comentários que se propagam nas redes sociais, de muitos outros: não ouvidos, apaixonados, resistentes, esperançosos.