terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O handebol Brasileiro na Contramão.



21º colocado na última edição do Mundial ainda sendo realizado na Suécia. Saúdo os esforçados atletas e repudio a desfaçatez de dirigentes que se contentam em alimentar-se de atrofiados poderes. Numa nação em que muitos jovens demonstram o prazer de jogar handebol, não se consegue fazer o elo entre a paixão de quem pratica e o progresso dentro da vivência e da competitividade necessárias ao Esporte.
Vejamos algumas nuances do cenário:

1. Somos vítimas de arcaísmos que se repetem: talvez uma pretensa lógica de que se deve enclausurar para garantir a permanência no poder ou a garantia de que, independente de como se conquista um título ou de quantos adversários se tem para desafiar, o importante é vencer.

2. O handebol tem falsamente crescido alimentando a noção de que quanto menos outros conhecerem, menos puderem ter acesso às práticas e aos treinamentos, melhor para os poucos que têm.

3. Talentos se perdem porque infelizmente o handebol de elite tem se transformado num handebol para a elite...
Uma consideração a esse respeito: dá para acreditar que um excelente jogador de seleção brasileira, com passagem pelo handebol espanhol tenha ficado uma temporada inteira da Liga Nacional sem receber um tostão furado, vinculado, não obstante, a uma das mais importantes equipes do handebol do país? Por que não criamos dentro da modalidade, entre os amantes e os sofredores, uma possibilidade de efetuar as críticas devidas e indignar-se com essa situação?
4. Uma seleção brasileira de handebol masculino é escolhida dentro de um universo de pouquíssimos atletas. Uma fórmula básica é desconsiderada. De uma pequena quantidade, dificilmente se tira a qualidade que seria necessária. Agravante: o nível de conhecimento dos atletas e suas vivências competitivas são escassos.

5. Há uma intensa massa de praticantes ocasionais (ou jogadores de clubes desestruturados e de prefeituras "brincalhonas") com talento que não conseguem adentrar no circuito do quase "maçonico" handebol. Passam ao largo do que poderia ser visto com mais cuidado por quem tem a tarefa de selecionar.

6. Reféns de inconsequentes empecilhos organizacionais e financeiros, alimentam-se campeonatos alternativos que reúnem muitas equipes por todo o Brasil. Impedidos de se juntar à elite nociva, fora do circuito oficial, jogadores talentosos, equipes que poderiam crescer competitivamente, técnicos que poderiam dedicar-se ainda mais, torcidas que poderiam potencializar a prática, ficam à mercê das viabilidades pessoais, às folgas dos compromissos de trabalho, à automotivação nem sempre presentes.

7. A formação esportiva fica prejudicada quando se percebe que pequenos esforços garantem hegemonias. A atenção fica voltada para a elite. Lapidam-se talentos que estão no topo quando deveria se voltar para os que começam a serem despertados para a prática. Um e outro, partes de um mesmo continuum precisam ser estimulados. Não um em detrimento do outro com tem sido a sistemática de atuação dos dirigentes perpetuados em seus cargos e em suas convicções tacanhas.

8. Regozijamo-nos quando dizemos que o handebol é a modalidade mais praticada nas escolas (depois do futsal, é claro né?). Bem. Se isso é, de fato, verdade, deveríamos ficar ainda mais preocupados em saber, diagnosticar e enfrentar o problema das causas que levam essa imensa quantidade de jogadores a não prosseguirem jogando, para além d0s inevitáveis e já sabidos gargalos e afunilamentos da própria dinâmica esportiva.

9. Um efetivo intercâmbio com os países que praticam o handebol de elite, na Europa, notadamente na Espanha, não pode se resumir à vinda de um técnico estrangeiro. Com ele deve acompanhar-se toda uma estrutura pensada para a incorporação efetiva do que se traz para a modalidade. Uma influência é sólida quando deixa raízes e quando se abre à tentativa de mudar de verdade...
A propósito temos que aprender também com a Argentina que na primeira fase do Mundial teve apenas uma derrota. Ganharam nada mais nada menos que dos suécos. Sabemos quais foram as alternativas criadas pela Argentina? Esse resultado é algo acidental ou é parte de uma mudança real na maneira de se entender o fomento da modalidade?

10. Aprofundar a prática consistente, estimular o conhecimento, reestruturar os organismos diretivos, pensar em novas fórmulas de campeonatos e de inclusão. Paro aqui para não ficar repetindo o que todo mundo já sabe não é mesmo?

Tem-se muito mais a se dizer, né?