segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Onde tudo começou!


2003. Ginásio do Campanário. Após algum tempo querendo ter a chance de estar à frente das equipes de handebol de Diadema, foi me dada a oportunidade de iniciar o trabalho com as equipes de base (cadete, infantil).
Mas, um pouco antes disso - já em 2002, através das aulas da Escola de Esporte -, e para eu perceber o quanto esse trabalho iria me trazer satisfação, iniciei essas aulas de handebol com algumas turmas lá do Campanário mesmo. Um grupo de garotos e garotas muito motivados - que até abaixo-assinado haviam feito - liderados pela entusiasmada Vanessa. Esses foram meus primeiros alunos de handebol. Eles iniciaram essa bonita história que hoje deixa algumas marcas merecidas nas relações do esporte com a cidade. A maioria frequentava as aulas na E.E Maria Carolina, eram alunos diferenciados de uma escola de tradição nas equipes de handebol.
O fato é que iniciei a turma tendo que lidar desde o início com esse espírito competitivo e motivado de garotos fãs do handebol. Esse espírito me contagiou e posso dizer que, de alguma forma, foram eles quem me deram a chance de experimentar algo novo, foram eles que, muito ou pouco, contribuíram para decisões futuras que eu iria tomar em minha carreira.
Ginásio do Campanário, encrustrado na comunidade do vermelhão, nos limites da cidade, na divisa com São Paulo. Esse o ginásio que sediadiria as primeiras esperanças de garotos que queriam se destacar em algo, mesmo quando os horizontes apertados poderiam dizer o contrário. Local recém inaugurado, mas já cheio de problemas de segurança, de falta de zelo com patrimônio público. Esse ginásio tornou-se a marca do início de um esquecimento progressivo das políticas públicas esportivas espalhafatosas e alardeadoras, sinal de verbas mal empregadas, mal gerenciadas e pouco criteriosas. Um bonito piso - o mais caro da cidade, por sinal -, uma quadra em dimensões apertadas mas ainda melhor do que as outras, uma excelente arquibancada. Um ginásio construído numa praça esportiva de prática anteriormente livre e organizada pela própria comunidade local. Em suma: um local pronto para oferecer problemas desde sua construção.
Assim, fui parar lá. Assim, fui inesperadamente sentindo essa vontade imensa de fazer com que algo desse, de fato, certo para esses garotos. Começamos com aulas que começaram a ficar pequenas no tempo pré-estabelecido, tamanha era a ânsia por aprender, por participar, por integrar. De alguma forma, procuro essa ânsia nos atletas de hoje, procuro esse brilho no olho, esse entusiasmo com os pequenos avanços, com as pequenas e significativas melhoras, com os pequenos triunfos diários. Não tardou e logo as tardes inteiras eram aproveitadas com nossas aulas (depois, as manhãs inteiras também). Para minha sorte, isolado que estava de toda administração, o tempo passava rápido e sentia que caminhávamos para algo maior.
Participamos dos Jogos da Primavera, treinamos pra valer, divertimo-nos mais ainda: treinamos, brincamos, ficamos amigos. Acompanhei de perto do desempenho deles nos JEDs, nas nossas aulas e também um pouco fora delas.
Vi na dedicação e na vontade de treinar dos garotos, a certeza de que precisava me aprofundar no que eu sabia sobre a modalidade e sendo também um pouco da voz deles nas instâncias maiores. Se o ginásio estava em obras, isso não era motivo para ficarmos sem ter aula. Íamos para o Maria Carolina, usar a quadra de lá da escola. Se um faltava, outro ia lá chamá-lo na casa dele. Se o professor ficava distraído, lá estavam eles para me chamarem a atenção. Propus, então, ficar com essas equipes menores, cadete e infantil. Esperamos os JEDs terminarem para fazermos uma lista dos garotos que se destacaram e iriam se juntar a essa turma iniciadora de tudo. Não posso deixar de lembrar alguns nomes importantes (vou esquecer os nomes de alguns, mas todos estão em minha lembrança, guardados sempre e revividos a cada instante em que a luta se reinicia): Vanessa, Cíntia, Tamires, Sandra, Thaís, Dorys, Deley, Djavan, Wallace, Leandro.
Tempos bonitos, tempos de uma verdadeira paixão que começava a brotar em mim mas que já transbordava neles. Eles me inspiraram, eles ainda representam - sem a cidade saber - muito do orgulho de um esporte, muito de um exemplo que deve ser levado para uma vida toda. Com carinho, sempre lembrarei de todos vocês.